segunda-feira, 21 de março de 2011

Bullying

O termo ficou famoso há pouco tempo. Lembro-me que no meu período escolar, tais atos eram conhecidos como “aloprar”, “zuar”, alguém. Nunca havia ouvido falar em “bullying”. Trata-se de agressões físicas e/ou psicológicas que acometem um ser, repetidas vezes. Para minha sorte, eu não tive problemas em sofrer “bullying”. Ao menos, não me recordo. Como são agressões marcantes, principalmente por fatores psicológicos, se eu tivesse sofrido isto, com certeza... lembraria. Em algum momento da minha vida, passei a ter um apelido. Hoje, com quase 31 anos completos, alguns amigos ainda me chamam de Pulga. Nunca fui contra tal apelido. Falar de Juli, seria algo amplo, existem muitas Julis por aí. Mas...falar da Pulga, era como que uma exclusividade. Quem foi? A Ju. É amplo, ainda caberia uma explicação sobre qual Ju seria a pessoa em questão. Quem foi? A Pulga. A imagem da menina magrelinha e que jogava um belo futebol com sua canhotinha, já tomava conta dos cérebros envolvidos no diálogo. Era uma exclusividade. Sempre gostei. Meu namoradinho Octavio ligava em casa, e meu pai atendia:
- A Pulga está?
- Sim, quem quer falar? – Meu pai respondia na maior naturalidade.
- O namorado dela.
Nesse momento, meu pai fervia.
Para meu aprendizado, eu fui autora de “bullying”. Ainda criança, não era uma pré-adolescente. Não sabia exatamente o que eu estava causando na outra criança. Meus pais nunca foram chamados pela escola, provavelmente porque a menina que sofria as agressões, nunca reclamara.  Infelizmente, não me recordo de seu sobrenome e por isso, não pude encontrá-la nas redes de relacionamento. Queria pedir perdão. Talvez tudo fosse diferente se meus pais tivessem sido chamados. Eu teria maior consciência do mal que estava fazendo. A menina chamava-se Camila. Na verdade, era um amor de menina. Tinha um tom de pele, bem claro. Era muito, muito, muito branquinha. Talvez, essa diferença que tenha despertado em mim, qualquer preconceito (inconsciente) e achado que ela merecia tal agressão. Para falar a verdade, eu enchia muito a paciência daquela menininha. Sem motivos. Por favor, não se esqueçam de que eu era uma criança, e realmente não sabia o que estava fazendo. Se eu fosse pré-adolescente, a história teria outro sentido. Eu cometia sem sombra de dúvidas, o famoso “bullying”, eu literalmente aloprava a Camila. Ela nunca me fez absolutamente mal nenhum. As minhas agressões cessaram quando Camila tomou coragem e me fez as pernas ficarem bambas. Meu coração doeu. Meu sangue ficou mais quente. Senti um calafrio na cabeça. Nunca mais eu cometi nenhum tipo de agressão do tipo. Ela me ensinou o que é respeitar a todos, independente de classe social, cor, credo, idade e etc.
- Macaca! – era como eu a chamava diariamente.
- Pára Pulga!
- Sua macacaaaaaaa! – eu gritava.
A menina se colocava a chorar. Eu, sentia um ar superior e a deixava para trás. Até o dia em que Camila, foi muito mais superior do que qualquer criança.
- Macaca! – eu novamente.
Camila chegou perto de mim e aos meus ouvidos sussurrou:
- Me faz um favor, Pulga? – disse-me baixinho.
Parei por segundos, percebendo que algo estava errado. Ela nunca me pedira nada. Balancei com a cabeça dizendo que poderia fazer um favor a ela.
- Não me chama mais de macaca, porque isso me magoa. – sussurrou mais uma vez.
Naquele momento, eu concordei. Senti-me muito mal. Sofri os sintomas físicos citados acima, e uma dor psicológica muito grande. Nunca havia passado na minha cabeça que eu a estaria magoando. Eu não pude observar isso naquela menininha branquinha. O episódio fora tão marcante em minha vida, que até hoje se tornara algo inesquecível. Que isso sirva de lição, para eu poder ensinar a minha filha, que não devemos em hipótese alguma, machucar outra pessoa. Que devemos prestar atenção, pois mesmo sem perceber, podemos ainda assim, estar magoando alguém. Alguém que nos quer bem. Eu peço perdão à Camila. Peço desculpas pelas lágrimas que em seu rosto eu fiz correr. Nunca mais eu agredi a menina. Ao contrário, sempre a chamava para brincar. Queria estar ao lado daquela menina, que um dia eu magoei.
Juli.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Proteção

Perdoem-me meus amigos e leitores sobre o texto a seguir. É apenas a minha opinião. Não é uma crítica destrutiva. É algo construtivo.
A moda tem uma velocidade fora do comum. Alastra-se mais rapidamente que uma epidemia. Em muitas coisas, eu – particularmente falando – não sou contra. Dependendo do caso, do que se trata uma situação de moda, sou sim... contra. Fumar maconha para estar na moda, não tem meu consentimento. Uma criança usar tênis coloridos, super luminosos, como os daqueles integrantes da banda “Restart” não me cabe como algo ruim. A moda é dependente do tempo. E se você estiver fora da moda, deixe os críticos falarem. Como aquela frase que também virou moda: “Falem mal, mas falem de mim”. Outro dia, mexendo no fundo do baú, minha mãe encontrou algo como que da Era do Gelo. Um sapato meu, marrom, daqueles modelos que possuem inúmeras bolinhas em sua sola. Um dia, aquele sapato, fez parte de uma moda. Ao me questionar sobre o futuro paradeiro do calçado, não hesitei em dizer que... poderia se desfazer. De qual maneira... eu não sei. Usar aquele sapato... seria dar a cara para bater. Antiquado. Não me preocupei tanto com as críticas que eu receberia, mas sim, com meu sentimento de que aquilo era realmente parte de um passado. Use, mesmo fora de moda, mas tenha bom senso. Usar aquilo, ao meu modo de ver, seria muito antiquado e sem noções de épocas da história humana.
 O que muito vejo hoje são aqueles adesivos de automóveis. Pura moda.  São eles, a representação de uma família. São eles, a representação do que você quiser. Vi muitos interessantes. Um deles, eu estava no carro, com meu pai.
- Olha pai!
- O que? – me perguntou sem saber onde olhar.
- Ali, aquela montagem dos adesivinhos – e apontei para o carro da frente.
Uma mulher havia colocado uns adesivinhos assim: uma mulher e ao lado, uma cegonha levando em seu bico, um pacote. Estava claro para mim, que... ela estava grávida...e solteira. Achei aquilo, de uma criatividade grandiosa. Num outro carro, vi uma mulher e dois homens. Bárbaro. Adoro quem tem senso de humor e sabe usá-lo.
Passei a reparar mais nos adesivinhos e analisar assim, a criatividade das pessoas. Vi coisas incríveis. E pude reparar através de três automóveis, que até mesmo nesses adesivinhos, pode haver psicologia.
Meu pai me ensinara, desde criança sobre a importância de proteção e cavalheirismo. Quando ando na rua com meu pai, de mãos dadas como já citei um dia, ele me coloca para o lado interno da calçada. O homem fica então, do lado de fora. Aprendi que isso é cavalheirismo, pois se um carro perde o controle, atropela primeiramente... o homem. Com crianças, deve-se fazer o mesmo. Leva-se segurando pelas mãos, estando ela... do lado interno da calçada. Proteção. Foi quando um dia, eu reparei na sequência dos adesivos. A maioria das pessoas, está colando primeiramente o homem, seguido da mulher e enfim, as crianças. Alguns ainda, colocam seus animais de estimação, por último. Em se tratando de psicologia e cavalheirismo, essa é a sequência correta. E a grande maioria cola a sequência toda, do lado esquerdo do carro. Lemos assim. Da esquerda, para a direita. Pode-se raciocinar então que, a rua está realmente do lado externo do carro e da sequência de adesivos. Claro... cada um cola da maneira como quer...não existe uma regra. Pensando dessa maneira, confirmam-se mais uma vez, o sentido e instinto de proteção, afinal de contas... não existe a regra dos adesivinhos. Ainda não colei em meu carro, provavelmente farei isso, no final de semana. Serei eu, minha menina, e dois gatos. Nessa sequência da esquerda para a direita. Até hoje, desde que a moda começou, eu vi três carros que me passaram uma impressão ruim, neste sentido psicológico. As crianças estavam coladas na parte externa, a extrema esquerda do automóvel, seguidas de seus pais. Psicologicamente falando e pensando, analisando um pouco mais, tive a sensação de que os pais, donos daquele automóvel, naquela família, se colocam muito a frente dos filhos. Pouco protegem. E não digo isso no sentido de aprovar uma super proteção. Sem exageros. Só tive uma sensação ruim com isso. Fica estranho pensar que, se ocorrer uma batida naqueles automóveis, as primeiras pessoas, ou o primeiro lado a ser atingido, serão as crianças. Parece algo do tipo “antes eles do que eu”. Com isso, eu realmente percebi que um simples adesivo...pode acabar mostrando muito mais...sobre você.
Juli.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Um milagre

Será um milagre? Parece ser. O processo denominado oxidação biológica me parece ser algo mágico. Um simples inseto é capaz de transformar a energia química em energia luminosa. Um processo químico, que ao desativar uma molécula, essa simplesmente emite... luz. Algumas das melhores experiências de minha infância e minha pré-adolescência ocorreram em acampamentos. No decorrer do tempo, vou postando mais histórias de acampamento. Ao menos... das minhas estadias fora de casa. Geralmente localizados no interior de São Paulo e estados adjacentes, foram alguns dos locais mais maravilhosos para um contato com a natureza. Não tinha mar. Não tinha areia. Tinha muito verde. E muitos bichos... pequenos e grandes. Estrelas brilhantes como os olhos de uma criança ao receber um presente surpresa. Eu não me recordo quando tive meu primeiro contato com essa espécie de insetos, mas lembro da minha experiência visual, nos acampamentos. Comecei a acampar, acredito que com 10 anos de idade. Viajava com a turma da escola. Ficávamos três dias e retornávamos. Tudo me deixava maravilhada. Minha mente carrega desde então, a imagem de um vaga-lume. Eram muitos. Piscavam. Suas luzes eram algo mágico e intrigante. Eu mal podia esperar para chegar a noite. Só para vê-los. Há muitos anos eu não vejo um vaga-lume. E você?
Depois de anos, resolvi buscar informações sobre a ausência desses insetos, ao menos na cidade de São Paulo. Nada encontrei. O material é defasado. O que aparenta é que as pessoas, nem se lembram que um dia viram um vaga-lume. E que importância tem...se eles existem ou não? Para mim isso importa, cada vez que me recordo deste inseto, lembro da magia que o envolve e noto que pela sua ausência... talvez minha filha nunca veja um. Caso você tenha alguma informação sobre o paradeiro de um vaga-lume, por favor, me comunique. Entendi anos depois o motivo de suas luzes. As cores das luzes variam de espécie para espécie. No caso dos insetos adultos, é um atrativo sexual, para que seja feito um encontro romântico e a espécie possa procriar e seguir com sua existência. Sua luz pode servir de defesa e ataque...a luz que me encantou, pode fazer o mesmo com outro inseto...e este...acaba virando comida. O problema é que o vaga-lume parece estar entrando numa fase de extinção. Isso acaba ocorrendo, pois as cidades grandes possuem muitos postes e luzes artificiais. Algumas fêmeas, vivem pelo chão e atraem seus namorados, pela luz. Com muita luz na cidade, essa comunicação fica comprometida. E o namoro simplesmente...não acontece. Um dos meus sonhos é mostrar um vaga-lume para minha filha. Tatu-bolinha está difícil também. Tive tanto contato com esses insetos...acredito que minha filha se divertiria também. Talvez algumas pessoas acreditem que tudo o que postei até aqui é besteira. Tudo bem, respeito. Mas...somos culpados por acabar com outra espécie. Eu sou responsável por isso. Você também. Infelizmente a vida força o final de uma espécie. Sentiria-me um pouco mais realizada com a simplicidade em mostrar que um dia existiu um inseto mágico, que emitia luz com seu próprio corpo, pequenino e indefeso, perante o ser humano.

Juli.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O que que é maconha, mamãe?

Em todos os canais, estava estampada a imagem do Rio de Janeiro. Pipocando no controle remoto, não havia o que assistir. Polícia de um lado, população de outro, exército chegando...era a guerra da droga. Eu não sei explicar o real motivo...mas minha filha, por alguns instantes queria ser “chefe de polícia”...antes mesmo do caso do Rio. Quando estamos no carro, fica feliz de ver uma viatura. Mais feliz ainda, de fazer um sinal de “tchau” para o policial.
Bom...eu não vou entrar em detalhes sobre esse assunto do Rio. Não é o objetivo do post. Mas, foi a partir daí, que surgiu uma dúvida na cabeça da criança e outra maior ainda...na minha. O jornal estava na cesta de revistas e jornais...com uma matéria enorme na sua capa. Não me recordo muito bem, mas o que sei...é que tinha a palavra MACONHA, em letras maiúsculas e de fôrma. A menina havia aprendido a ler.
- O que que é maconha, mamãe?  - ela perguntou, com toda sua inocência e pureza.
Eu realmente não sabia o que responder. Fiquei preocupada com o que deveria falar, e o que não deveria falar. Ela só tinha seis anos de idade. Eu fui sincera com a menina. Pedi que esperasse um momento para eu ver, como explicaria isso para ela, de uma maneira fácil para ela entender...Balançando a cabeça, concordou em esperar.
- Filha...maconha é uma droga – iniciei uma explicação cuidadosa.
- E o que que é droga mamãe? – perguntou com toda sua inocência.
- Droga, meu amor, é uma coisa que algumas pessoas fumam. Uma coisa que os traficantes, como esses do Rio de Janeiro, vendem – expliquei mais um pouco o assunto, sem abranger demais o tema. Não citei outros tipos de drogas, nem como eram feitos os usos.
- Ah tá... e faz mal?
- Faz muito mal. Para o corpo todo.
- E mamãe... quem fuma droga morre?
- Pode morrer sim. Não é uma coisa boa... faz mal né? – já dizia isso, com uma entonação na voz, dirigindo aquele diálogo para seu final.
- Nossa...eu nunca vou querer fumar maconha mamãe – respondeu sabiamente.
Procurei nesse diálogo não abranger muito o assunto. Acho algo delicado para ser muito explicado nessa idade infantil. As crianças são muito curiosas. Até que ponto ela poderia ter ficado curiosa em saber que efeitos são causados pela maconha? Preferi apenas, dar meu ponto de vista e direcionar a conversa com sutileza.
Outro dia, depois do banho, já instaladas para brincar na sala, surgiu outro comentário da pequena menina.
- Mamãe, hoje na rua tinha um homem que bebeu droga. Ele estava balançando assim (e fez um gesto até que engraçado no momento).
- É mesmo filha?
- É sim mamãe...ele bebeu droga.
- Credo.
E seguimos com nossa brincadeira.

Juli.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Grande dia

O dia tão esperado por duas pessoas...enfim, chegara. Sábado logo após tomar o café da manhã, nos dirigimos ao shopping mais próximo. O dia seria perfeito. E assim, foi. Na loja de brinquedos, o coraçãozinho da menina, tão pequeno como ela mesma, batia ferozmente. Pacientemente e muito contente, mostrei os mais variados brinquedos. O navio pirata era realmente o preferido. A criança estava doida e com um brilho no olhar, feito estrelas na ausência da luz, numa noite. Perguntava-me a todo o momento, se realmente levaríamos o brinquedo naquele dia. Eu respondi com toda empolgação, que sim. Por ter uma caixa enorme, resolvemos almoçar, fazer uma compra para a mamãe e em seguida, retirar o brinquedo. Foi o que fizemos. Ao rodar mais um pouco pela loja, me questionou sobre outro brinquedo. O que seriam “Bakugans”? Eu havia visto a chamada do desenho na televisão, mas não tinha a menor idéia do que realmente era. Nem ela. Apenas possuía o conhecimento de um brinquedo que em seu interior, tinha um imã. Encostado a uma carta, igualmente magnética, o brinquedo se abria, como aqueles carrinhos da minha infância...os “Transformers”. Saímos da loja muito alegres e com ânsia de chegar em casa para poder abrir os presentes. Um Navio Pirata e os “Bakugans”. Este ano, ela estava definitivamente decidida a obter brinquedos diferentes de suas Barbies e Pollys.
Ao chegar em casa, a caixa do Navio, que só coubera no porta-malas do carro, assustou os demais presentes. A menina rasgava o embrulho com toda sua força e pressa. Desde então, pouco se desgrudara do artefato. E ainda afirmou:
- Este é o melhor presente que já ganhei em toda a minha vida. Eu estou muito feliz mamãe.
Objetivo de mãe, cumprido.
Ficaríamos em casa, por conta do feriado de Carnaval, quatro dias juntas. No dia seguinte de ganhar o seu tão amado Navio, a menina recusou um convite de um baile de Carnaval, num clube próximo. Sua vontade era brincar. A minha, também. Divertimo-nos muito. Em outro dia, acabou cedendo a outro convite para um baile. No seu último dia vivendo os seis anos de idade, a menina resolvera não colocar fantasia. Outra coleguinha, fez o mesmo. A menorzinha da turma, com dois anos, logo se trocou. O sentimento de nostalgia, relatado no post “Nostalgia”, estava presente. Encontrei duas amigas do colegial, com seus respectivos filhos. Lembrei-me de muitas risadas que demos no colégio. Felizmente, continuamos com o mesmo sorriso. Curtimos o baile, dançamos, fizemos palhaçadas, tudo isso, enquanto nossas filhas...mal se mexiam. As crianças de seus 30 e poucos anos, se divertiram aos montes. Adorei a experiência. Vamos repetir.
No último dia que eu estaria em casa, na data do Carnaval e por coincidência, dia Internacional da Mulher...por outra coincidência...aniversário do amor da minha vida, fizemos um bolo em casa. Coisa simples, pois este ano ela escolheu comemorar com os amigos...na escola. Em casa, apenas os que ali moram e a namorada de meu irmão, com sua mãe. A festa foi completa. Da maneira como ela quis. O tema? Isa Tk+, uma novela produzida na Venezuela que é televisionada pela Nickelodeon no Brasil. Se vestiu como Isa Tk+ e fez seu show, mais uma vez.
Juli.

sexta-feira, 4 de março de 2011

A falta

Eu sei que um dia vai me fazer falta. Vai me fazer muito mais falta do que já faz hoje. Eu saio de casa, vou ao trabalho, mas ao meu retorno, você está ali. Mato a saudade. Lembro-me de quando eu era criança. Sua mão me conduzia pela calçada. No shopping, a mesma mão me segurava na escada rolante. Sua mão passava em minha cabeça, acariciando meus cabelos, e acalmava de uma maneira positiva, a minha febre. Eu não via seu sofrimento quando estava com mononucleose. Soube tempos depois, que você estivera assustado. Ainda vejo sua mão me apoiando nas minhas decisões. E principalmente, eu vi seus braços esticados e abertos, para me acolher quando mais precisei. Seus braços acolheram a mim e a minha filha. Me desculpe se algo não saiu como você sempre sonhou. Mas, era o que estava escrito na minha vida. Essa é a minha vida. Me perdoe pelas minhas falhas. Mas, você gerou outro ser humano, que erra também, assim como você deve ter errado em algumas situações. Hoje sua mão conduz a minha filha pela calçada. No shopping, a mesma mão segura minha filha na escada rolante. Sua mão passa na cabeça dela, acariciando seus cabelos e acalma de maneira positiva, a febre dela. Ela não vê como sofremos quando ela está doente, ou com algum problema. Aprendi com você, o que é um ser bom. Aprendi com você o que é ser competente, engraçada, responsável, sábia, coerente, mãe, pai, autoritária quando necessário, e feliz. Me ensine mais coisas, se assim desejar, pois eu estou sempre aberta às suas lições. Me perdoe quando não lhe dou ouvidos, às vezes, eu preciso de um maior tempo para reflexão. Obrigada por ser meu melhor amigo, meu companheiro. E tive muita sorte na vida, de poder cruzar com sua alma. Agradeço a Deus e ao Universo, por te ter na minha história. Eu te amo. Obrigada por me mostrar e me deixar lhe mostrar, que algumas coisas precisam ser modificadas para serem melhores. Obrigada por me dar bronca, quando foi preciso. Você estava me educando. Obrigada por trabalhar tanto. Você estava me educando e me proporcionando o melhor. Obrigada por me permitir sentir felicidade nos meus aniversários. Obrigada pelos presentes. Obrigada pela Barbie que me trouxe da Argentina. Você pensou mais uma vez, em mim. Hoje eu continuo segurando a tua mão. Eu sei que você me guia sempre para o melhor e mais prazeroso caminho. Hoje se você estiver com febre, eu vou acariciar seus cabelos. Sem vergonhas eu continuo andando no shopping e nas calçadas, segurando a tua mão. Eu tenho 30 anos, mas continuo sendo parte de você. Eu sou uma extensão tua. Tenho dois ombros caso você precise. Dois braços abertos sempre a lhe acolher. E estico as mãos para seguir junto, nas tuas decisões. Eu te amo. Me dói pensar que um dia você vai me fazer muita falta. Que perderei o chão. Mas, que terei que ainda assim, seguir minha vida com minha filha, para poder fazer com ela, tudo o que fez comigo. Obrigada pai, por tudo.
Juli.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O sábio

“Cada criança ao nascer, nos trás a mensagem de que Deus não perdeu as esperanças nos homens.” - Rabindranath Tagore.
Juli.

Nostalgia

Todos nós temos nossos momentos de nostalgia. Encontrar um professor do colegial, por exemplo, nos traz sentimentos de nostalgia. O que difere de se sentir...saudade. Eu tenho saudade de um tempo de minha pré-adolescência...eu tenho saudade da época em que eu jogava futebol, ao invés de estudar para a prova de Física de amanhã. Eu não tenho saudade de tirar uma nota três na prova da professora Fumico, em Biologia. Mas, sei que se encontrar com o Cláudio, meu professor de futebol, vou sem dúvidas, abraçá-lo e sentir uma certa...nostalgia. O que foi vivido e não pode ser mais...vivido. Sinto saudade da turma do colegial...mas, isso não será mais uma nostalgia...eu vou reencontrá-los. Pelos sites de relacionamento, já encontrei muitos. Estou extremamente feliz com esse fato. Alguns, casaram, constituíram família, outros não usam sites e ficam praticamente...excluídos de minha sociedade ativa. Que pena. Saudade do Bocão. Saudade da Monicão. Saudade do Professor Mário. Saudade do Mutti. Saudade do Norberto. Saudade de muita gente. O tempo nessas horas, é meu arqui-inimigo. Me levou e leva, pessoas com tamanha importância em alguma fase da minha vida...e que por descuido...se foram, sem ter como voltar. Aprendi que o tempo é maldoso quando quer. E que por isso, anoto dados dos amigos queridos. Se tirarem do ar, um dia...um site como esses...não quero perdê-los mais uma vez. Agradeço todo dia, por tê-los resgatado. E o amor da pré-adolescência? Outro amor...não o Felipe. O Felipe foi na infância, assim como o Felipe da minha filha. Um amor, escondido. Que ficou no peito, sem nunca ter uma resolução. Eu nunca soube se ele fora interessado em algum momento. Eu nunca me abri. Apenas assisti por meses, um namorico dele...com uma menina do colégio. Vi esse namorico acabar. Vi os dois crescendo, quando me perdi por outros estudos, por outra vida e outros rumos. Nunca mais ouvi falar nos dois. Nem no meu amor, nem na menina que teve o carinho daquele menino. Isso...até alguns anos atrás. Não vou entrar em detalhes, pois hoje ainda não reatamos a amizade como eu gostaria, e não quero que de repente, se ler isto, perceba que é ele mesmo. Admiro suas fotos, quase toda semana. Olho e vejo o que perdi. Não o perdi. Perdi a oportunidade de ter uma resposta satisfatória e a meu favor. Eu me fechei na casca do caranguejo, me escondi, assim...da mesma maneira que fazem outros cancerianos. De uma maneira ou de outra, vou relatando e mostrando também, que tanto faz se eu me esconder ou não. O machucado pode vir. Aprendi isso, com outros amores. Se eu me fechar...me machuco por não tentar. Se eu me abrir...me machuco por ouvir uma resposta negativa. Eu corro um risco também, de ouvir um sim...e tremer meu peito e ver as pernas ficarem bambas. Com isso, me machuco por não saber o que fazer. Me machuco por ter medo e deixar esse amor...passar e me escapar entre as mãos. Eu não sei mais, se gosto de correr riscos.Eu cresci, eu sou mais responsável, sou mãe, não posso admitir jogos amorosos e infantilóides. No quesito amor, eu sempre corri estes riscos. Adrenalina no correr do risco. Isso alimentava a minha alma. O que sinto por esse menino, que hoje é um homem, é nostalgia. Algo que eu não pude ter e não posso fazer voltar atrás para tentar obter. Seria arriscado mais uma vez...a distância. Não quero outra vez essa distância. Demorei anos para encontrá-lo novamente no site de relacionamentos. Isso perdura uns 4 anos já. Nossa amizade não é de todo dia, não é de telefonemas, nem nada mais...Eu percebo, que aquele menininho...é um homem...que também vive em sua casca. A timidez é a sombra. Vamos ver até quando...eu consigo me manter...na minha casca do caranguejo. Me perdoe amigo, mas aquele amor na pré-adolescência...ainda vive...mesmo que em nostalgia.
Juli.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Valquíria

Aqueles que possuem qualquer contato com uma criança, sabem que algumas apresentam certa relutância em relação à hora do banho. Outras são certamente verdadeiros... peixes. A menina que tenho em casa, saída de meu ventre, não é um peixe. Se bem que, ela possui momentos aquáticos. Em se tratanto de verão, pega o chuveirinho e demonstra um banho bem divertido. Por outro lado, no inverno...a preguiça a acomete. Num desses famosos banhos de verão, a mãe da minha filha resolveu tomar um banho...juntinho da pequena. Foi uma verdadeira festa. Tenho maiores explicações para um fato que ocorreu com tamanha bagunça. Um ralado no joelho bastou para que em instantes, surgisse uma boa saída para que uma criança pudesse esquecer a sua dor.
Lembrei-me de quando a criança me questionara sobre o que era ser gay. Se você está lendo este post sem ter lido quaisquer posts anteriores, lhe convido a ler antes deste, o entitulado “Mamãe, o que é gay?”.  Acredito que entenderá melhor o caso que irei relatar.
Valquíria é uma Drag Queen, que trabalha num salão até o período da noite, fazendo cortes de cabelo, penteados, maquiagens e afins. Tem em seu rol de clientes, uma pequena mocinha, que fala pelos cotovelos, deixando-a louca durante todo o atendimento, que ocorre sempre...no banho. Tudo parece confuso até aqui. Vamos esclarecer um pouco mais. Valquíria possui voz melosa, afeminada, com ataques de frescura e histerismo. Mas, faz a maquiagem corporal quase todo dia, na pequena cliente. Seu material de trabalho? Shampoo e sabonete. A dor de um joelho ralado? Nem aparece. Não há tempo de melindres e dores, durante o atendimento de Valquíria...ela literalmente...roda a baiana. A criança? Ri tanto, até quase não suportar e fazer xixi ali...no chuveiro... tudo isso...ocorre...num processo de ensaboamento corporal e esquecimento de arranhões.
Antes de mais um dia de salão de beleza, subindo as escadas...me veio uma informação engraçada. Observe que por mais que a criança tenho tido a informação do que é ser gay...não ouveram maiores assimilações sobre o fato. Detalhe que Valquíria para mim, é uma Drag Queen, amorosa e uma pessoa muito carismática. Um gay. Por outro lado, num diálogo casual, eu tive mais uma vez, a confirmação do que é a inocência infantil.
- Mamãe, a Valquíria pode vir hoje? Por favor?
- Claro, vamos lá, que ela já deve estar no salão.
Nesse momento, minha mãe interviu.
- Quem? – perguntou sem nada entender.
- A Valquíria vovó. É uma mulher doida que tem no salão – respondeu a criança, com a maior naturalidade possível.
- Mulher? Achei que era um gay, ou uma Drag Queen-  comentei sem maldades. Ficava claro para mim, ali...que ela não sabia da existência de Drag Queens, e da maneira como se comportaria tal representação. Particularmente, eu adoro uma Drag. Resolvi não aprofundar nisso e deixar...na imaginação a mulher fresca lhe atender...e na minha mente...a Drag, igualmente fresca...lhe atender.
Já no processo de nos despir, Valquíria apareceu.
- Oi Môoooona, como está queriiiiiida?
- Ah Oi Valquíria...- e com isso, não parou mais de falar. Tão pequenina a cliente, com tantas palavras e frases saindo de sua boca, começava a deixar Valquíria de cabelos em pé.
O banho rolava como uma verdadeira fantasia. Não estávamos mais no chuveiro. Estávamos num salão maravilhoso, cheio de gente chique e com...grana. A cliente? Sairia de lá, satisfeita, feliz e cheirosa. Mais uma vez...eu digo...eu afirmo...como é bom ser criança! Brincar...se todas as pessoas, se propusessem a brincar todos os dias...veriam como é bom e simples, ser feliz e infantil.

Valquíria é requisitada, todos os dias, desde então. O banho...é uma das horas, mais divertidas lá em casa.
Confesso que Valquíria às vezes, assombra meu pai. Sempre procura ele para terem um diálogo. Meu pai? Morre de vergonha de Valquíria e geralmente, sai correndo pela casa. Como essa “mulher” me diverte!
Juli.